O fenômeno da criatividade linguística não afasta a tese fundamental de que o significado de uma palavra é o seu uso na língua.[1]
Apesar da abertura da língua a inovações, é o que já existe nela, ou melhor, no seu uso normal, que possibilita a comunicação. Quem introduz uma expressão nova o faz, geralmente, por derivação, analogia ou composição, ou cercando-a de expressões consagradas, ou, ainda, com o emprego das regras gramaticais existentes.[2] O uso da língua está sempre aberto ao elemento novo, mas este é sempre minoritário. Foi provavelmente contemplando essa característica que Wittgenstein fez a seguinte ressalva (parte grifada) à sua própria afirmativa: “Pode-se, para um grande número de casos em que se emprega a palavra “significado” – embora não para todos – esclarecer o emprego dessa palavra da seguinte forma: o significado de uma palavra é o seu uso na língua.”[3] Estudos históricos sobre a dinâmica das mudanças linguísticas demonstram que elas são “um processo gradual e não abrupto”[4] e que há elementos que se mostram mais conservadores que outros. Os substantivos, por exemplo, são os primeiros a ceder espaço para palavras novas, já os pronomes e as regras gramaticais mostram-se extremamente conservadores.[5] O psicólogo Charles Osgood explica que “é verdade que os falantes produzem novas sentenças a toda hora, mas a semântica e a gramática não podem, ambas, ser simultaneamente novas, ou falharemos na compreensão.”[6] A linguagem é uma habilidade que permite a geração e o entendimento de expressões novas. Mas essa habilidade tem limites e quem quer que pretenda redigir uma mensagem clara precisa respeitá-los.
NOTAS
[1] “Die Bedeutung eines Wortes ist sein Gebrauch in der Sprache.” - WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophische Untersuchungen. In: Schriften. Verf. Friedrich Waismann. Frankfurt: Suhrkamp, 1960, § 43.
[2] Ver STURTEVANT, E. H. Linguistic change: an introduction to the historical study of language. Chicago: University of Chicago Press, 1961, p. 99.
[3] Texto original: “Man kann für eine große Klasse von Fällen der Benützung des Wortes »Bedeutung« - wenn auch nicht für alle Fälle seiner Benützung - dieses Wort so erklären: Die Bedeutung eines Wortes ist sein Gebrauch in der Sprache.” - WITTGENSTEIN, Philosophische Untersuchungen, § 43.
[4] Texto original: “... change in general is a gradual rather than an abrupt process.” - BERG, Thomas. Linguistic structure and change. Oxford: Clarendon Press, 1998, p. 257.
[5] Ver BERG, Linguistic structure and change, p. 222.
[6] Texto original: “It is true that speakers produce novel sentences all the time, but the semantics and the grammatics cannot both be simultaneously novel, or we fail to comprehend.” - OSGOOD, Charles E. Language, meaning, and culture: the selected papers of C.E. Osgood. New York: Praeger, 1990, p. 123.
Nenhum comentário:
Postar um comentário